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terça-feira, 15 de novembro de 2016

O SEGUNDO TÍTULO NACIONAL



A segunda conquista nacional

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

Depois de ganhar o Mundial, Flamengo emendou título do Brasileiro


Foram poucos dias de descanso. Em dezembro, o Flamengo batia o Liverpool por 3 a 0 e conquistava o Mundial. No dia 20 de janeiro - pouco mais de um mês depois -, iniciava a trajetória no Brasileirão de 1982. E aquele timaço aguentou a pressão.

Em 1981, o único título que escapou ao Mais Querido foi o do Campeonato Brasileiro. Derrotado nas quartas de final pelo Botafogo, o Flamengo foi campeão do estadual, da Libertadores e do Mundial. E o elenco iniciava 1982 com vontade de corrigir este tropeço.
A estreia não poderia ter sido melhor. Com o Maracanã lotado para receber os campeões mundiais, o time comandado por Carpegiani enfrentou o São Paulo. E tomou um susto. Serginho marcou dois gols e os times foram para o intervalo com vantagem para o adversário: 2 a 0. Mas nada era impossível para aquele timaço rubro-negro. No segundo tempo, veio a reação. Zico tabelou, invadiu a área e chutou forte para diminuir. O empate veio aos 25 minutos. Andrade chutou no canto. Quando a rede balançou, era questão de tempo até a virada rubro-negra. E ela veio. Júnior passou pela esquerda e cruzou como sabia. Milimétrico. Zico subiu e, de cabeça, fez o terceiro. Uma vitória para começar o Brasileiro com o pé direito.
Aqui, explica-se: A fórmula de disputa do certame era diferente. Os 40 times da primeira divisão foram divididos em oito grupos, com cinco times em cada. Todos se enfrentaram em turno e returno. Os três primeiros colocados de cada grupo passaram para uma segunda fase, onde se juntaram aos quatro times vindos de repescagem e aos quatro primeiros colocados da Série B - então chamada Taça de Prata. As 32 equipes foram então divididas em oito grupos, com quatro integrantes em cada. Depois de mais uma série de confrontos em turno e returno, os dois primeiros colocados de cada grupo passaram à fase decisiva, que foi decidida em mata-mata.
 
A emoção não acabou na primeira rodada. Logo em seguida, no Arruda, um jogaço contra o Náutico. Os muitos gols são reflexo do futebol apresentado pelas duas equipes. Leandro marcou o primeiro gol com chutaço no ângulo. O time da casa empatou graças a gol contra após confusão em escanteio. Hêider fez um golaço de falta e botou o Alvirrubro Pernambucano na frente. E tudo parecia perdido quando, logo depois, o mesmo Hêider subiu de cabeça para fazer 3 a 1. Mas, como ficou provado contra o São Paulo, nada nunca é impossível para o Flamengo. Batendo falta da lateral da área, Zico botou a bola na cabeça de Lico, que diminuiu. O favor foi devolvido logo em seguida. O Camisa 10 da Gávea recebeu lindo passe de Lico, passou por trás da defesa, fintou o goleiro e bateu no canto: 3 a 3. A segunda virada em duas rodadas seria selada com 75 minutos de jogo. E se o Náutico fez um golaço de falta, o Flamengo também queria um. Zico não deixou barato: com sua tradicional categoria, cobrou bola parada da entrada da área e não deu nenhuma chance para o goleiro. Gol de craque. Gol da virada. Gol da vitória.

Depois de vencer o Náutico, o Flamengo teve compromissos mais tranquilos contra outras equipes do nordeste. O Ferroviário-CE sofreu 5 a 0 no Maracanã e o Treze-PB perdeu por 3 a 0. No returno do grupo, mais vitórias rubro-negras. 3 a 1 sobre o Treze e 2 a 1 sobre o Ferroviário. O Náutico estragou os 100% de aproveitamento com um empate por 1 a 1 em pleno Maracanã. Na rodada final, no Morumbi, mais um jogaço entre dois times repletos de craques - e mais uma tarde de emoções.

O São Paulo de Waldir Peres, Dario Pereyra, Marinho Chagas e Serginho Chulapa recebia o Flamengo disposto a não deixar o cenário da rodada de abertura se repetir. Mas...

Renato abriu o placar para o Tricolor logo aos oito minutos. Caminho aberto para uma vitória fácil? Que nada. Nunes e Lico, dois especialistas em balançar as redes, viraram para o Flamengo ainda na primeira etapa. Com quatro minutos do segundo tempo, Tita fez mais um. Seis minutos depois, foi a vez de Zico. 4 a 1. O São Paulo ensaiou uma reação e evitou a goleada graças a gols de Dario Pereyra e Éverton, mas a vitória ficou mesmo com o Mais Querido.

O Flamengo chegou voando à segunda fase. Invicto, foi sorteado em um grupo com gigantes: Atlético-MG, Corinthians e Internacional. A estreia na etapa foi contra o esquadrão corinthiano de Sócrates, Wladimir e Casagrande. No Morumbi, o empate em 1 a 1 evidenciou o equilíbrio e a força dos dois times, com Wladimir e Zico balançando as redes.

Ao empate, se seguiu um jogo que representava simplesmente a reedição de tantos confrontos recentes. Flamengo e Atlético-MG decidiram o Brasileirão dois anos antes e, em 1981, tiveram históricos e equilibrados jogos pela Libertadores. No Maracanã, mais uma virada.

O Galo parecia estragar a festa dos milhares de rubro-negros presentes ao abrir o placar. Éder cobrou falta com categoria. A bola bateu na trave e voltou nos pés do artilheiro Reinaldo, que não perdoou. O empate viria em jogada de bola parada. Júnior cobrou falta na área, Mozer tentou marca de cabeça e, quando parecia que João Leite encaixaria a bola, Adílio apareceu para desviar para o fundo do gol. O virada veio de quem era mais acostumado a impedir gols do que a marcá-los. Júnior cobrou escanteio, Moze subiu mais que a defesa e, de cabeça, fez o segundo. No returno do grupo, o Atlético-MG se vingaria e imporia a única derrota do Flamengo antes da fase de mata-mata. Em jogo que os times ficaram empatados pela maior parte do jogo e o Mais Querido brigou até o fim, o Galo venceu por 3 a 1 no Mineirão.

Contra o Internacional, o Flamengo empatou por 1 a 1 no Maracanã. Se parece um resultado ruim para um jogo em casa, no Beira-Rio o Mais Querido compensou. Numa troca de passes típica dos craques que estavam em campo, Adílio achou Zico por trás da defesa. O Camisa 10 disputou com o goleiro e abriu o placar de cabeça. Mauro empatou para o Inter e Geraldão virou. E, mais uma vez, o Flamengo enfrentava um placar adverso. O Beira-Rio tremia com a torcida Colorada. Lico, Adílio e Zico fizeram uma linha de passe no meio da defesa Colorada e o Reinaldo Potiguar chutou forte para empatar. Em seguida, Vitor dominou passe de Tita com a perna direita, bateu com a perna esquerda e selou mais uma vitória de virada do Flamengo naquele Brasileirão.




Gols de Zico e Tita no Maracanã garantiram uma vitória por 2 a 0 para o Rubro-Negro sobre o Corinthians. A vitória deixou o Flamengo na segunda colocação do grupo e levou o timaço à fase de mata-mata.

Nas oitavas de final, confronto rubro-negro. O Sport tomou 2 a 0 no Maracanã, mas, no jogo de volta, na Ilha do Retiro, fez um grande jogo e quase passou de fase. Mesmo perdendo por 2 a 1, o Flamengo passou às quartas. O adversário das quartas foi o Santos. No Maracanã, Gilberto abriu o placar para o Alvinegro praiano. O Flamengo lutou e, no segundo tempo, Tita empatou e, aos 44 minutos, Marinho virou. Na Vila Belmiro, o Santos novamente abriu o placar cedo. Com três minutos, Paulinho Batistote fez 1 a 0. O placar dava a vaga ao Santos, mas lá estava Zico, aos 38 minutos da etapa final, para empatar e botar o Flamengo na semifinal.

Àquela altura, o Mais Querido estava embalado e confiante. Foram vitórias convincentes e repletas de garra e o título estava cada vez mais perto.

O fortíssimo Guarani, liderado pelo matador Careca, era o adversário das semis. No Maracanã, Zico e Peu botaram o Flamengo à frente e em vantagem pela vaga na decisão. No fim do jogo, Lúcio descontou para o Bugre. A partida seria decidida no Brinco de Ouro e os dois times estavam muito vivos.
O estádio teve recorde de público: mais de 52 mil presentes. E quem foi ao estádio em Campinas, naquele dia 15 de abril, assistiu a uma das maiores exibições de um dos maiores jogadores da história. Não há outra forma de dizer isso: Zico simplesmente acabou com o jogo.

Em um cenário parecido ao da semifinal, o adversário abriu o placar com três minutos de jogo. Jorge Mendonça, em belo voleio, aproveitou bola alçada na área e fez 1 a 0. O show de Zico começou aos 22. Em jogada de escanteio ensaiada, Júnior recebeu e cruzou. Zico subiu e cabeceou no canto. 1 a 1. O primeiro tempo terminou empatado. A segunda etapa mal havia começado quando Lico deixou a bola com Zico, que, do meio da rua, soltou um tiro de canhão, cheio de efeito, e virou o jogo. Um golaço. Aos 11 minutos, Adílio quase marcou o terceiro. No rebote, a bola chutada bateu no zagueiro do Guarani e o árbitro marcou pênalti. Se havia alguma pressão, o número 10 não sentiu. Zico bateu bem no cantinho. Já no final do jogo, Jorge Mendonça descontou para o Guarani, mas não foi o suficiente. Rubro-Negro finalista.
O adversário foi o Grêmio. Acostumado a enfrentar timaços na trajetória até a decisão, o Flamengo teria como adversários agora nomes como Hugo de León, Paulo Isidoro, Leão e Baltazar. 

O primeiro jogo, no Maracanã, tem, até hoje, a marca de quarto maior público da história do Brasileirão. 138.107 torcedores estavam no Templo do Futebol naquele dia. E parecia que a maioria sairia frustrada quando com 38 minutos do segundo tempo, após um jogo muito disputado, Tonho Gil abriu o placar para o Grêmio. Na única chance do Tricolor Gaúcho na etapa final, Júnior quase tirou a bola em cima da linha, mas ela entrou. Parecia que os visitantes definiriam o campeonato em casa, com vantagem construída no Maracanã. Só parecia.
Com o relógio mostrando 44 minutos de jogo, Júnior arrancou, ganhou na raça e cruzou. Zico matou no alto, já tirando da defesa. Cara a cara com Leão, meteu na lateral da rede: 1 a 1. Nas transmissões da época, é difícil ouvir a voz dos narradores, eclipsadas pela festa que a multidão rubro-negra fez.

Decisão aberta para o segundo jogo, no Olímpico. O campeão sairia de um resultado disputado entre dois grandes protagonistas do futebol brasileiro. Com 75 mil pessoas no estádio, tudo indicava uma atmosfera favorável ao Grêmio. Mas o que se viu foi um 0 a 0 tenso, que forçou a realização de uma terceira partida. 

Quatro dias depois, novamente no Olímpico, os gigantes se alinharam para um último confronto. Dali, saiu o campeão.

O gol do jogo não poderia ter saído senão dos pés do Artilheiro das Decisões. O João Danado, que era malandro, arteiro, gostava de aprontar. E aprontou para cima dos donos da casa. O Flamengo saiu jogando da defesa. Júnior deixou a bola com Adílio, que costurou pelo meio, tabelou com Tita e sofreu falta já na intermediária gremista. O time bateu rápido, trocou passes e a bola chegou a Zico. O gênio acelerou a jogada, partiu para cima e deixou com Nunes. Ele só precisou encostar na bola em um único momento. E esta vez teve a força de milhares de outras. Um chutaço. Seco, rasteiro, bem no canto, entre o goleiro Leão e a trave. Se uma muralha existisse entre a bola e o gol, ela teria sido derrubada.

Nos 80 minutos seguintes, o Grêmio não conseguiu superar o Flamengo. No apito final, fomos bicampeões brasileiros.

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