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terça-feira, 19 de março de 2013

O craque de Mossoró

No aniversário de 5 anos do blog, uma homenagem ao inolvidável Dequinha, conterrâneo ilustre. 

 
Do Blog: SELETA DE PROSA
Fonte: http://seletadeprosa.blogspot.com.br/2009/09/o-mais-querido-tem-rubens-dequinha-e.html 
O Flamengo é uma das minhas grandes paixões. De 1980 pra cá, muito da história da minha vida passa pelo clube. E não é só o futebol não: os esportes ditos "amadores" também. Já me emocionei muito com o basquete, com o vôlei, judô e natação do Flamengo. Já varei a madrugada tentando confirmar o resultado do Remo rubro-negro. Reverenciei ídolos que nunca vi em quadra, piscina, tatame ou campo. Chorei, ri, chorei de rir, ri de chorar, acompanhando o clube. Já parei (com mais 04 gatos pingados) uma das maiores avenidas daqui de São José dos Campos (SP - terra do primeiro quiosque do Flamengo fora do RJ) pra comemorar o penta (sim, penta) em 92. Mas não é disso que quero falar. Aliás, é do Flamengo sim, mas de uma personagem em especial: José Mendonça dos Santos, o Dequinha (nascido em Mossoró, RN, a 19 de março de 1928).
Dia desses, aniversário familiar. O pessoal conversando e eu meio de canto. Até que um tio, desses que a gente só vê em festas familiares, puxa a cadeira e senta ao meu lado. Cabelos branquinhos, fala pausada.
- E o nosso Flamengo, hein?(mal acreditei que o Flamengo fosse virar assunto ali, aquela hora!)
- Ah, tá melhorando... o Andrade parece que conseguiu, com aquele jeito manso dele, acalmar aquele caldeirão.
- ‘Tamo’ com uns reforços bons... o Maldonado é bom, aquele negrinho (o Álvaro, tio) chega junto na zaga. E o Pet quer calar a boca de uns e outros aí...
- Verdade. Pena o time ter engrenado tão tarde...
- Rapaz, você me falou do Andrade e eu me lembrei de outro. Eu nasci em Minas, mas por causa do Flamengo sempre tive a obsessão de morar no Rio. O que consegui realizar em 1951, porque fugi de casa e me alistei no exército no (não me lembro o número) batalhão, lá.
- Sério?
- Sério. Meu jovem, o futebol era uma coisa linda de se ver mesmo. E não falo de estratégia ou tática, ou essas modernices, nada disso. Era plasticamente bonito! A bola era mais bem tratada que muita dama, hahaha...
- Imagino, às vezes penso nisso. Mas de quem o senhor lembrou?
- Bem, indo para o RJ em 1951 e apaixonado pelo Flamengo... você ouviu falar do tricampeonato de 53, 54 e 55?
- Opa, claro!
Pausa. Como qualquer rubro-negro que se preze não teria ouvido falar deste feito? Como um time perde de 5 x 0 o segundo jogo da final, tem o presidente morrendo na véspera do jogo decisivo (o grande Gilberto Cardoso pai, num tempo em que os presidentes eram os grandes líderes dos clubes, infartara de modo inapelável após - mais um - título do Basquete flamengo), como um time arranca forças para meter inapeláveis 4x1 e conseguir seu segundo tricampeonato (tão heróico quanto o primeiro, graças ao grande paraguaio Valido, outro que merece uma lembrança)? Só mesmo essa força da natureza chamada Flamengo. Mas volto ao Tio Zé.
- Bem, tão logo cheguei no RJ e me apresentei no batalhão, logo me juntei aos rubro-negros e íamos sempre aos jogos, nas folgas. O Flamengo realmente era maravilhoso, mas os outros também eram muito bons. E o Flamengo tinha um centromédio, Dequinha, que era um monstro.
Dequinha! Quem não sabe sobre Dequinha, imortalizado no “Samba Rubro-Negro”?
“Flamengo joga amanhã / Eu vou pra lá / Vai haver mais um baile / No Maracanã / O mais querido / Tem Rubens, Dequinha e Pavão / Eu já rezei pra São Jorge / Pro Mengo ser campeão!”
Sobre Dequinha: Dequinha formou com Rubens uma dupla de meio campo famosa na década de 50. Rubens era o estilista, responsável pelas jogadas de gols. José Mendonça dos Santos, o Dequinha (nascido em Mossoró, RN, a 19 de março de 1928), encarregava-se de combater os adversários, tomar-lhes a bola e proteger seus zagueiros. Uma excursão do América do Recife ao Rio de Janeiro, em 1950, atraiu o interesse do Flamengo, que o contratou. O investimento no maior centromédio do Norte e Nordeste valeu: Dequinha tornou-se uma peça vital na campanha do segundo tricampeonato do Flamengo, o primeiro no Maracanã. Dotado de incrível resistência física, não se limitava a proteger a defesa. Depois de amortecer a bola - a classe era tanta que parecia ter usado a mão - iniciava a arrancada pelo espaço livre ou tocava de leve para alguém sempre bem colocado. Raramente errava os passes e lançamentos longos. No Flamengo foi titular absoluto até encerrar a carreira, em 1960. (fonte: www.nacaorn.hpg.com.br)

- Dequinha, sei sim.
- Menino, eis algo que jamais esquecerei. Aquele Maraca lotado, pintado de vermelho e preto. Então tinha um tiro de meta pro adversário. O estádio emudecia! Emudecia tanto que a gente ouvia o bico do goleiro na bola. E a bola procurava o Dequinha! Ele levantava o pé praticamente na altura do pescoço, trazia a bola pro pé dele, como se usasse a mão, levantava a cabeça e iniciava as jogadas. E aí ele tinha Rubens, Dida, Joel, Zagalo, Evaristo, essa turma toda, pra tocar a bola. Por isso que dói ver caneleiros envergando o manto. Eu sou de um tempo que nego suava pra jogar com aquilo. No batalhão a gente brincava: preto era de tanta lama, de os caras se jogarem na bola. Vermelho era o sangue que aquele time suava. E os outros torcedores não podiam falar nada, porque quem ia no estádio via aquilo tudo.

E o papo acabou indo pra seleção brasileira, outros chegaram na conversa. E eu tinha vivido um momento emocionante: o depoimento de quem esteve presente numa fase maravilhosa do futebol brasileiro e do Flamengo. Romântica, talvez. Mas maravilhosa. O Maraca cheirando a novo, os grandes jogadores tratando a bola como ela deve ser tratada. Homens de brio, paixão. Jogos épicos, esportividade e gentileza. E uma nação cuja história é a maior força para a conquista de um futuro com glórias merecidas.
Porque é assim: uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.

O timaço do segundo tri!