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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Os protagonistas da decisão - Parte 1



Edilson exibe pôster da conquista do tri
(Foto: Pedro Veríssimo / Globoesporte.com)

26/05/2011 11h34 - Atualizado em 26/05/2011 18h24

Edílson: de rival fora dos campos a fiel escudeiro de Pet no 'gol do tri'
Atacante fez dois contra o Vasco em 2001, mas viu sérvio ser coroado. Ele revela que PC Gusmão ficou um mês sem falar com Helton
Por Eduardo Orgler, Janir Júnior e Pedro Veríssimo
Salvador

Edílson escreveu sua carreira no futebol com gols e títulos. O atacante também ficou famoso por não se esquivar de assuntos polêmicos. Até hoje, ele gosta do que chama de ‘historinhas do futebol’. Dez anos depois da conquista do tricampeonato carioca com o gol de falta de Pet, o Capetinha revela capítulos dos bastidores do Flamengo. E até do Vasco.

O ex-jogador fala abertamente sobre a rixa com Pet, segundo ele um ‘cara que reclamava de tudo, mas, em campo, um jogador maravilhoso’. Edílson, que marcou dois gols na vitória por 3 a 1 sobre o Vasco, não se sente injustiçado ou esquecido pelo fato de o título carioca de 2001 sempre ser associado à falta cobrada pelo camisa 10.

O atacante recorda que estava na área na hora da cobrança, na esperança de um rebote na falta de Pet para que ele fizesse seu terceiro gol e entrasse definitivamente na história. Mas admite que sem a bola do gringo no fim da partida de nada valeria ter feito dois gols.

O Capetinha espeta até personagens que estavam do outro lado da trama. Edílson revela que PC Gusmão, que em 2001 era preparador de goleiros do Vasco, ficou um mês sem falar com Helton por considerar que o jogador falhou no lance do gol de Pet.

- São historinhas assim que ninguém sabe, que rolam entre a gente – divertiu-se Edílson.

GLOBOESPORTE.COM: O Flamengo perdeu o primeiro jogo da decisão do Carioca de 2001 para o Vasco por 2 a 1. Como foi a semana depois dessa partida e antes da grande final, já que o time precisava vencer por dois gols de diferença?
Edílson: Eu estava confiante. Lembro bem daquela semana, aconteceu um episódio comigo. Fui a um show do Belo e, no camarim, encontrei o Jorginho Paulista, lateral-esquerdo que jogava no Vasco. Ele era muito meu amigo, saíamos juntos. Como era semana de clássico, ficamos meio separados. Brinquei com ele na frente de todo mundo. Eu disse: ‘Não estou preocupado, esse título é nosso, vamos ganhar tranquilos, sem medo nenhum’. Começou uma discussão, o Jorginho falou ‘que nada’. Eu rebati, disse que fazer dois gols era mole, que eu marcaria um logo no início para tirar a diferença. Um monte de flamenguista colocou pilha no Jorginho. Durante o jogo, eu passava confiança para o time em todos os momentos. Falava que ninguém tirava aquele título da gente. Isso irritou o pessoal do Vasco. Toda hora que tinha escanteio, aquele segura-segura dentro da área, eu comentava: ‘ Vamos ganhar na marra, no grito’.

A forma como o jogo foi decidido, o gol no fim da partida, o título. Foi a conquista mais emocionante da sua carreira?
Foi uma das mais emocionantes. Esse jogo marca uma época maravilhosa do Flamengo, e minha também. E com detalhes: primeiro, bati um pênalti na final de um campeonato, com milhares de pessoas no estádio, o jogo sendo transmitido para o mundo inteiro, uma responsabilidade enorme. Consegui fazer o gol. Depois, ainda marquei de cabeça e sofri a falta que originou o terceiro gol. Tive uma participação decisiva no título, além de ser artilheiro do campeonato naquela ocasião, desbancando o Romário. Aquela decisão foi um dos últimos grandes jogos de futebol que disputei. Todo mundo tem na lembrança.

Você era o cobrador de pênaltis ou impôs sua vontade naquela partida? Como funcionava, tinha um batedor oficial?
Antes daquela decisão quem batia os pênaltis era o Pet, mas ele perdeu algumas cobranças, e o Zagallo passou a responsabilidade para mim. Naquele momento eu era o cobrador. O Pet não pipocou para bater, ele nunca foi de pipocar. Eu estava tranquilo, tinha batido um pênalti contra o Helton no Brasileiro do ano 2000. Nós ganhamos de 4 a 0, eu fiz o último gol. Na decisão do Carioca, mudei o lado, tentei enganar ele de novo. Bati no outro canto. Fui convicto. (Edílson bateu o pênalti no canto direito de Helton, que caiu para o lado esquerdo. Foi o primeiro gol da decisão do Carioca, aos 21 minutos).

Você fez dois gols, sofreu a falta que originou o terceiro, mas quando lembram da conquista sempre se referem o tri do ‘gol do Pet’. E não se fala tanto de você. Você acha que é esquecido ou injustiçado?
(Risos) De jeito nenhum. É normal, a situação do jogo, ter feito o gol aos 43 minutos do segundo tempo, todo mundo lembra da jogada marcante. Meus dois gols ajudaram, mas se não tivesse o terceiro de nada adiantariam.

E você estava ali na área, vai que pinta um rebote da falta, não é...
Se você observar, na hora que o Pet bate, eu vi a direção da bola, esse tipo de jogada o goleiro desvia bem de leve, imprensa a bola na trave, ou bate no travessão e volta. Minha preocupação era sair da barreira. Se tivesse rebote, eu estava lá para conferir. Fiquei bem próximo do Helton. Eu estava ali para fazer o terceiro gol, mas não precisei marcar para dar o título ao Flamengo.

E a jogada que acabou com o gol. Você recebe um passe do Leandro Ávila, está marcado pelo Fabiano Eller. Como foi o lance?
Até hoje o Fabiano Eller reclama comigo, mas foi falta (risos). Ele diz que foi escanteio, mas na hora do jogo ele queria que fosse falta, pois estava distante. Depois que a bola entrou, ele queria que fosse escanteio. O Vasco achava que seria mais perigoso uma cobrança de córner. Como atacante, eu escorei o Eller, mas não tenho esse corpo todo, ele me segura, me puxa pelo braço e faz a falta. O Torres (zagueiro do Vasco) ainda colocou a bola para escanteio. Foi falta, e graças a Deus saiu o gol.

O PC acha que o Helton deveria ter saído antes, e me disse que ficou um mês sem falar com o ele por causa daquele gol."EdilsonQuando o juiz marcou falta, e não escanteio, você achou melhor?
Eu achava que o escanteio seria melhor. O Pet naquele jogo teve umas três oportunidades para bater faltas, e não acertou uma, jogou na arquibancada, na barreira, ele não estava bem. A bola parada que era um dos pontos fortes não estava funcionando. Achava melhor escanteio, para trazer os jogadores mais altos, jogar a bola na área para tentar o gol. A falta estava distante. Mas quando o Pet acertava, era difícil pegar. O Helton não teve o que fazer. O Pet errou várias, mas acertou aquela, é o que vale.

E a rixa entre você e o Pet? E os problemas internos?
Era verdade. Eu me dava muito bem com o Petkovic. Aí começaram os problemas de personalidade, de discordância, de cada um ter seu temperamento. Eu achava que o Julio Cesar tinha que ser titular, não o Clemer. Aí, o Clemer ficou chateado achando que eu queria tirar ele do time. O Julio Cesar é o que é hoje, eu fico aliviado. Eu torcia por ele, que era meu companheiro de quarto. Sempre existem discórdias. O Pet tem uma personalidade muito forte. Nos treinos, tivemos problemas, não só eu, o plantel, o treinador. O Pet não gostava que os jogadores mais novos chegassem forte nele nos treinamentos. Se tivesse uma dividida, ele revidava, chutava a bola para o alto, jogava a bola na arquibancada para reclamar do preparador físico ou auxiliar que apitavam o coletivo ou ‘dois toques’. Ele reclamava de tudo e começou a desgastar o grupo. Como jogador que tinha mais nome, bagagem e personalidade, eu não aceitava aquilo. Tinha que rebater aquilo ali, se ficasse calado e não tomasse atitude, o Pet ia tomar conta do time. Esse tipo de briga era melhor para o Flamengo, porque queríamos o melhor para o clube. Ficou um clima ruim.

Mas isso não tinha reflexos dentro de campo?
Não, não. Nunca tivemos problemas de um não passar a bola para o outro. Dentro de campo não afetava em nada. Fiz vários gols com passes do Petkovic, era a função dele como jogador de meio-campo, e a minha como atacante. A bola passava nos pés dele e chegava para mim. A imprensa criou uma rivalidade enorme entre a gente. Fora as discórdias nos treinos, nunca teve nada demais. Não ficou mágoa ou ressentimento. Quando encontro com ele, falo, abraço, sem problema nenhum. De boa.

E o jogador Petkovic, era fácil jogar com ele?
Era maravilhoso. O Petkovic é um superjogador, do primeiro escalão. Ele é um cara de uma enorme técnica, capacidade, habilidade de botar o atacante na cara do gol. Naquela final, ele deu um passe na minha cabeça de quem conhece mesmo, não foi um cruzamento normal, ele passou a bola. Pet foi muito importante para aquele título.

E depois da conquista, no vestiário, vocês se abraçaram, comemoraram juntos?
Lógico, normalmente. Depois que ganha, tudo vira festa. Quem está brigado faz as pazes, acaba tudo com o sucesso. Tudo deu certo. As brigas e problemas ficam para trás. A vitória tem essa capacidade de unir as pessoas. Não lembro bem, mas devo ter falado para ele: ‘ó, velho, tudo que passou foi para o bem do Flamengo, vamos esquecer’. Isso sempre acontece.

Você estava no Flamengo em 2001 quando o time foi campeão carioca sobre o Vasco; em 2006, você estava em São Januário quando a equipe perdeu a Copa do Brasil para o Rubro-Negro. Tem diferença dos lados às vésperas de uma final?
Futebol é uma paixão. O torcedor de um time sempre acha que a sua paixão é maior do que a do outro. Torcedores de Flamengo e Vasco têm a mesma paixão. O que acontece é que a torcida do Flamengo é maior, então a proporção aumenta. E o jogador também pensa diferente, entra mais confiante, pensa que o Maracanã é dele, que está jogando em casa, sou favorito, tenho que ter iniciativa de sair para o jogo, de ganhar... Jogadores e torcedores do Flamengo sentem isso. Não agora, com o Maracanã fechado.

O que você acha que passa pela cabeça do Helton na hora da cobrança de falta e também depois do jogo?
Eu lembro que o PC Gusmão era preparador de goleiros do Vasco naquela ocasião. Trabalhei com o PC no Corinthians, ele é um grande amigo. Depois daquele jogo, ele me disse que acha que o Helton errou, que foi frango. É a parte técnica do treinador de goleiros. Ele acha que o Pet, daquela distância, jamais bateria a falta no outro canto, que ele só tinha aquele ângulo para bater. O PC acha que o Helton deveria ter saído antes, e me disse que ficou um mês sem falar com ele por causa daquele gol. O PC também acha que ele quis fazer uma grande defesa, mas considera um erro. São historinhas assim que ninguém sabe, que rola entre a gente. Eu achei que a bola foi muito difícil, lá na coruja. Isso acontece, é coisa do futebol.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2011/05/edilson-de-rival-fora-dos-campos-fiel-escudeiro-de-pet-no-gol-do-tri.html

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