O tri nacional
Com direito a goleada na decisão
O Flamengo vivia
seu auge. Nos três anos anteriores, havia conquistado dois campeonatos
brasileiros, uma libertadores e um mundial. O posto de time a ser batido
era rubro-negro. O clube iniciou a disputa com mudanças em relação aos
elencos campeões nos anos passados.
Entre os principais
jogadores, Tita e Nunes deixaram o Flamengo. Chegaram outros grandes
atletas, como Baltazar, Robertinho e os jovens Júlio César Barbosa e
Bebeto, promovidos das categorias de base.
A fórmula do certame foi semelhante à dos anos anteriores. Na
primeira fase, os 44 times participantes foram divididos em grupos com 5
integrantes cada. Depois de se enfrentarem em turno e returno, os três
primeiros avançaram para uma segunda fase de grupos. Se juntaram a eles
os quatro melhores colocado da segunda divisão - a Taça de Prata - e
quatro vencedores da repescagem entre os quartos colocados. Os clubes
foram divididos em grupos com quatro integrantes cada. Novamente,
confrontos em turno e returno. Os dois primeiros colocados de cada um
dos oito grupos se classificaram a uma terceira fase de grupos,
divididos em quatro grupos de quatro times cada. Finalmente, os dois
primeiros colocados dos grupos da terceira fase passaram à fase de
mata-mata, onde jogaram quartas, semi e final.
A disputa começou com vitória convincente sobre o Santos. O
estreante Baltazar fez o segundo gol, depois que Zico abriu o placar. Ao
bom resultado, se sucederam dois tropeços. O Flamengo empatou com Moto
Club-MA e Rio Negro-AM, em ambas as oportunidades por 1 a 1. Em mais um
confronto no norte do país, o Paysandu não foi páreo para aquele time,
que se recuperou com boa vitória por 3 a 1. Os empates do primeiro turno
foram devolvidos com juros. O Moto Club tomou 5 a 1 e o Rio Negro, 7 a
1. Foram duas goleadas para reafirmar a força do Flamengo, com grandes
atuações coletivas. Baltazar se adaptou rapidamente ao time e fazia
muitos gols. Adílio, Zico e Andrade mantinham a classe de sempre. Depois
de vencer novamente o Paysandu por 3 a 2, o Rubro-Negro foi ao Morumbi
e, frente ao forte Santos de Paulo Isidoro, Pita e Serginho, acabou
perdendo pelo mesmo placar. Mesmo assim, passou confortavalmente de
fase, na segunda colocação.
Para a segunda
chave do campeonato, o Flamengo foi sorteado no grupo com Americano,
Palmeiras e Tiradentes-PI. O Rubro-Negro estreou vencendo a equipe
piauiense na casa do adversário. Zico fez dois belos gols, Andrade
completou o placar e o Fla fez 3 a 1. O placar foi o mesmo no jogo
contra o Palmeiras, mas contra o Mais Querido.
O Mengão se recuperou com boa vitória sobre o Americano, por 3 a
0. O Tiradentes foi derrotado mais uma vez, agora no Maracanã. Depois
de empatar com o Palmeiras e com o Alvinegro de Campos, o Flamengo se
garantiu na segunda colocação e passou à terceira fase.
O
grupo, desta vez, era formado por Corinthians, Goiás e Guarani. Depois
de vencer Goiás e empatar com o Goiás, o Mais Querido estreou seu novo
treinador: Carlos Alberto Torres. O Capita teve um começo dos sonhos. No
Maracanã, o Flamengo goleou o Corinthians por 5 a 1. No encontro entre
dois dos maiores ídolos do futebol na época, Zico triunfou sobre
Sócrates. O Galinho balançou as redes duas vezes. No primeiro, recebeu
lindo passe de chaleira de Júlio César e mandou pro gol. No segundo,
cobrou falta e mandou a bola com muita força, rasteira, no canto oposto.
O placar ficou ainda mais elástico com Adílio. O Rubro-Negro já
dominava o jogo e, após bela troca de passes, Baltazar fintou e cruzou.
Lá estava o Brown, que botou para dentro. Mozer acertou belo cabeceio,
sem nenhuma chance para o goleiro, e fez 4 a 0. Para fechar o caixão,
Élder recebeu lançamento perfeito de Zico, deu drible genial em Leão e
fez o quinto. O Corinthians diminuiu no fim do jogo, mas o estrago
estava feito.
A confirmação da vaga na fase de mata-mata veio com vitória por 2
a 0 sobre o Guarani. Em seguida, empatou mais uma vez com o Goiás, que
ficou na segunda colocação, e perdeu para o Corinthians.
Chegava
a hora da verdade no Brasileirão. E o Flamengo decidiria seu primeiro
mata-mata logo contra um gigante rival: o Vasco. O duelo de dois
timaços. O Cruzmaltino tinha em Roberto Dinamite seu maior craque e não
foram jogos fáceis. Cada partida das quartas de final foi presenciada
por mais de 110 mil pessoas no Maracanã.
O jogo
de ida foi melhor para o Flamengo. Após belíssima troca de passes,
Adílio surgiu frente a frente com o goleiro e botou a bola no canto para
abrir o placar. O rival conseguiu empatar ainda no primeiro tempo. Mas
ali estava um time destinado ao título. Na segunda etapa, o zagueiro
Marinho subiu pela direita, aplicou belo chapéu e cruzou. O goleiro
vascaíno falhou e a bola chegou a Júlio César, que só precisou de um
toque para botar para dentro.
Na volta, prevaleceu a garra rubro-negra. O Vasco abriu o placar
no primeiro tempo e ia revertendo a vantagem conquistada pelo Flamengo.
Aos 44 do segundo tempo, já no fim, um contra-ataque. Élder tocou de
calcanhar, Adílio avançou e, quando o goleiro saiu, tocou para Zico, que
não desperdiçou. O cracaço deu mais uma demonstração de seu amor pelo
vermelho e preto na comemoração, extravasando sua alegria e ajoelhando
na bandeira de escanteio. O empate levou o Flamengo à semifinal.
Um
confronto de rubro-negros antes da final. O adversário foi o
Atlético-PR, que tinha na dupla Assis e Washington sua base. No jogo de
ida, o Flamengo fez valer da sua força e da torcida de mais de 100 mil
pessoas no Maracanã. O 3 a 0, com dois de Zico e um de Vitor, deram uma
bela vantagem. Na volta, dois gols rápidos de Washington deram um susto
no Mais Querido. O Furacão pressionava e o que parecia impossível estava
cada vez menos difícil. Mas a pressão da equipe paranaense não foi
suficiente e a vaga na final ficou com o Rubro-Negro carioca.
E o Brasileirão terminaria com o mesmo confronto que o iniciou. O Flamengo enfrentaria o Santos na decisão.
O
Morumbi foi lotado por mais de 114 mil espectadores para o primeiro
jogo. O Flamengo começou criando as primeiras chances, mas não abriu o
placar. Com 25 minutos de jogo, Camargo cobrou escanteio, a zaga afastou
e Pita fez um golaço, com chute indefensável da entrada da área. O
Santos aumentaria sua vantagem no segundo tempo. Serginho Chulapa
aproveitou rebote e fez 2 a 0. Pouco depois, Baltazar diminuiu. Após
bagunça na área, Adílio tentou fazer e a bola ia nas mãos do goleiro
Marola, mas Baltazar conseguiu desviá-la de cabeça.
A vantagem mínima do Santos animou a torcida rubro-negra. O
Maracanã recebeu 155.253 pessoas para o jogo decisivo - o maior público
da história do campeonato brasileiro. Logo no primeiro lance, em grande
jogada coletiva, a bola chega ao ataque. Júlio César dribla Toninho
Oliveira e cruza. Baltazar é travado na hora do chute, Marola defende o
rebote de Júnior, mas comete erro fatal: solta a bola no pé de Zico, que
consegue botar para dentro. Um gol cedo para acabar com a superioridade
adversária no placar era o que o Flamengo mais precisava e aquilo
animou os rubro-negros.
O que se segue é uma
das maiores atuações da história rubro-negra. O Santos não consegue
respirar no Maracanã. O Flamengo domina todas as ações com a qualidade
de seus jogadores e a força da sua torcida. Adílio aparece com sua
qualidade absurda em um nível sobrehumano, ditando o ritmo do jogo. No
fim da primeira etapa, Zico cobra falta da lateral da área e Leandro
acerta cabeceio muito forte e estufa as redes mais uma vez. 2 a 0 e o
título cada vez mais perto. O lateral quase fez o terceiro gol do
Flamengo no lance seguinte, mas chutou no travessão. Mas o autor do
tento final tinha que ser o camisa 8.
Depois de
um segundo tempo em que o Santos ensaiou uma reação, impedida pela
defesa rubro-negra, já no fim do jogo Robertinho passa pela direita,
ganha a bola, dribla bonito e cruza com muita categoria. Adílio se joga
de peixinho e bota para dentro - um dos lances mais emblemáticos da
história do Flamengo. O Neguinho Bom de Bola saiu em disparada,
comemorando com os braços abertos, como que tentando abraçar todos
aqueles rubro-negros que comemoravam nas arquibancadas a conquista do
terceiro título brasileiro.
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