O tricampeonato da Copa do Brasil
Uma campanha de superação e talento
O ano era 2012
quando foi eleita, em dezembro, uma nova diretoria para o Clube de
Regatas do Flamengo. Eduardo Bandeira de Mello, juntamente com seus
vice-presidentes e diretores, prometeu revolucionar o clube,
principalmente na parte financeira. A partir de dezembro, foi iniciada
uma verdadeira operação, com o foco no gasto responsável do dinheiro que
o Mais Querido arrecadava e com a gestão de maneira transparente e
inteligente. A história dessa Copa do Brasil teve início em dezembro
daquele ano.
Na reformulação do elenco, uma
grande quantidade de jogadores foi dispensada ou vendida. Nomes como
Wellington Silva, Magal, Botinelli, Negueba, o ídolo Maldonado e Vagner
Love, dentre outros, saíram do clube a fim de aliviar a folha salarial.
Em contra-partida, foram contratados alguns atletas para reforçarem
posições pontuais no elenco, juntamente com alguns garotos que subiram
das categorias de base naquele ano. Os principais jogadores que chegaram
para elevar o patamar do elenco em funções fundamentais foram o
meio-campista Gabriel, o zagueiro Wallace, e o volante que, mais tarde,
viria a tornar-se o capitão da equipe, Elias.
Durante a disputa do Campeonato Carioca, alguns garotos que
vinham bem no time sub-20 ganharam chances na equipe principal, e foram
de fundamental importância na campanha da conquista da Copa do Brasil
daquele ano, principalmente os atacantes Rafinha e Nixon. Ambos chamaram
a atenção com uma atuação de gala na goleada por 4 a 2 contra o Vasco,
tendo o primeiro marcado um verdadeiro golaço em uma arrancada em
velocidade saída do campo de defesa rubro-negro.
A força ofensiva composta por garotos começava a ganhar corpo.
Na
estreia da competição nacional, o Flamengo enfrentou o Remo em duas
partidas. Na primeira, o destaque ficou para Rafinha que, em uma grande
jogada pela ponta esquerda, passou no meio de dois jogadores e bateu de
chapa no canto. A bola ainda desviou em Hernane antes de entrar e dar
números finais ao confronto.
Já na segunda
partida, disputada em Volta Redonda, o camisa 9 rubro-negro teve uma
atuação impecável, anotando todos os três tentos do Mais Querido.
Hernane demonstrava oportunismo, excelente posicionamento e um poder
enorme de finalização, características de todo grande centroavante.
O adversário seguinte foi o Campinense.
No primeiro confronto, foi a vez de um veterano roubar os
holofotes. Com uma história de longa data com o clube da Gávea, o
meio-campista Renato Abreu estava de volta ao Flamengo. O "Urubu Rei"
marcou ambos os gols do Mais Querido na partida da maneira que tornou-se
sua especialidade com o passar dos anos, as cobranças de falta. Todas
levavam perigo ao gol adversário, e a maioria parava no fundo das redes.
Sua técnica era invejável, aliando a força à precisão em cada batida.
A
partida de volta foi disputada no Estádio Municipal Radialista Mário
Helênio, em Juiz de Fora. Elias marcou o segundo tento do confronto, que
terminou em vitória rubro-negra por 2 a 1, que viria a ser um dos gols
mais bonitos de toda a campanha. Após um drible desconcertante, o camisa
8 tabelou com Hernane e Paulinho na entrada da área, que deu um passe
por elevação de costas para o gol. Elias fez a infiltração pelo meio da
defesa do Campinense e finalizou com precisão na saída do goleiro.
Na sequência, foi a vez do ASA, de Arapiraca.
O
jogo marcava a participação rubro-negra na terceira fase da competição.
Na primeira perna, Nixon foi o nome da vitória por 2 a 0 com um gol e
uma assistência. Já na segunda partida, os tentos de Elias e Marcelo
Moreno, ambos completando para o fundo das redes com extrema categoria
jogadas construídas pelas beiradas do campo, garantiram o prosseguimento
do Flamengo na competição.
Foi então que chegaram as oitavas de final.
O
Mais Querido enfrentaria a equipe que vinha dominando o futebol
brasileiro nos últimos anos. Comandados por Marcelo Oliveira, o Cruzeiro
venceria o Brasileirão de 2013 de forma antecipada e no ano seguinte
também se sagraria campeão. No entanto, toda essa qualidade em campo foi
ofuscada pelo brilho predestinado do elenco que envergavam com garra e
talento o Manto Sagrado.
Na primeira partida, o
gol de Carlos Eduardo manteve o Flamengo na briga. A equipe mineira
ganhava por 2 a 0 quando, aos 23 minutos da etapa final, o Marcelo
Moreno aproveitou uma confusão na zaga celeste e finalizou. A bola tocou
caprichosamente a trave e sobrou limpa para o meia, que apenas empurrou
para o fundo das redes.
O segundo jogo foi
pautado pela tensão. O Mais Querido voltava ao Maracanã após um longo
período de três anos fechado para reformas a fim de receber a Copa das
Confederações daquele ano e a Copa do Mundo do ano seguinte. O estádio
estava completamente lotado, com a Nação fazendo uma festa linda e
apoiando os atletas em campo desde o primeiro minuto.
A partida ia se encaminhando para o fim. Flamengo e Cruzeiro
tiveram diversas oportunidades para marcar, com alternâncias durante
todo o confronto em termos de posse de bola e chances criadas. A
eliminação era iminente naquele momento, mas aquele elenco tinha
entendido perfeitamente o que é vestir o Manto Sagrado. O desejo de
seguir adiante era visível em cada um daqueles jogadores. E foi então
que, aos 42 minutos do segundo tempo, uma jogada espetacular de Paulinho
pelo lado direito abriu a oportunidade para o cruzamento. Os atacantes
do Mais Querido levaram a zaga celeste para dentro da pequena área e,
inteligentemente, Elias se posicionou próximo à marca do pênalti,
sozinho. O camisa 26 encontrou o capitão com passe preciso, que
finalizou com maestria levando o Flamengo à próxima fase da competição. A
comemoração emocionada do volante permanece na memória dos torcedores
até hoje.
O que se viu depois foi um verdadeiro massacre no clássico.
As
coisas não vinham bem no Campeonato Brasileiro. Após uma derrota por 4 a
2 para o Atlético-PR, o ex-técnico Mano Menezes pediu demissão,
deixando a equipe no meio da competição. A coragem de Jayme de Almeida
deu um ânimo novo para a equipe após tomar as rédeas da situação. O time
estava motivado novamente e disposto a conquistar o título, além de
sair da situação de perigo no outro torneio nacional.
Depois da primeira partida, que terminou empatada por 1 a 1, com
o gol rubro-negro marcado por André Santos, a Nação lotava novamente
sua casa para o confronto da volta. Em uma atuação para crítico algum
botar defeito, o Flamengo goleou o Botafogo por 4 a 0. Como de costume
naquela temporada, o centroavante Hernane foi, mais uma vez, o dono do
show. Três dos quatro tentos foram marcados pelo camisa 9, que ainda
veio a sofrer o pênalti cobrado por Léo Moura e que fechou o placar. O
Flamengo estava nas semifinais.
O próximo adversário seria o Goiás.
A
equipe do centro-oeste brasileiro havia eliminado o Vasco em um
confronto equilibrado na fase anterior, o que mostrava que não seria
tarefa fácil passar pelo time goiano. A primeira partida foi realizada
no Serra Dourada e viu uma suada vitória rubro-negra por 2 a 1, com
todos os gols sendo marcados na etapa inicial. Paulinho abriu o placar
em finalização precisa após limpar o defensor oponente com um drible
curto, que era sua especialidade. E por falar em especialidade, o
veterano zagueiro Chicão deu números finais à partida após cobrança de
falta perfeita no canto direito do goleiro.
No jogo da volta, no Maracanã, um susto logo de início. Aos 5
minutos de partida, Eduardo Sacha marca o primeiro gol do confronto. O
que poderia ser visto como um banho de água fria para a torcida teve o
efeito contrário. O barulho no Maior do Mundo era ensurdecedor, com
cantos incessantes vindo das arquibancadas. Foi então que, aos 14
minutos, um ataque brilhante é construído a partir da intermediária viu
Elias tentar finalizar. A bola rebateu na zaga e sobrou para o
artilheiro Hernane, que encobriu o goleiro com a categoria típica do
goleador. O jogo estava igual novamente.
O
ímpeto rubro-negro cresceu ao decorrer da partida. As jogadas vinham
acontecendo e as chances estavam amontoando-se. Eis que uma bola tocada
para Elias, ainda um pouco longe do gol, foi parar no fundo das redes
após uma batida perfeita do volante. Na comemoração, mais um momento
emocionante. A homenagem do camisa 8 ao filho Davi, que passava por
problemas de saúde à época. Durante todos os dias que antecederam o
confronto, foram inúmeras as mensagens de incentivo por parte da torcida
ao atleta e a seu filho, dando forças ainda maiores nessa luta,
mostrando que nenhum deles estaria sozinho.
Uma linda maneira de retribuir todo esse carinho.
O Flamengo chegava à final, que seria disputada justamente contra o time que provocou o pedido de demissão do antigo treinador.
Na
primeira perna do confronto, um atacante que viria a juntar-se ao
Flamengo na temporada seguinte, o ponta-direita Marcelo Cirino, abre o
placar aos 18 minutos de partida. No entanto, quando a primeira etapa se
aproximava do fim, o volante Amaral acerta uma bomba de rara felicidade
de fora da área. A bola vai no ângulo, indefensável para o goleiro
Weverton. O jogo termina em 1 a 1, dando a vantagem de um empate sem
gols no Maracanã para garantir o título ao Mais Querido.
Apesar
disso, em sua casa, só a vitória interessava ao clube da Gávea. Um jogo
completamente que estava dominado pelo time carioca, mas o gol teimava
em não sair. As oportunidades foram se acumulando durante toda a
primeira etapa e até o final da segunda. Mas o Flamengo tinha Paulinho e
Elias. A parceria vinha dando certo durante toda a campanha, com
passes, infiltrações, dribles, assistências e finalizações perfeitas.
Foi em uma jogada pela esquerda, aos 42 minutos de partida, que o ponta
rubro-negro deixou o camisa 8 na cara do gol, para abrir o placar e
deixar o Flamengo com a mão na taça. A emoção toma conta do estádio.
O confronto já ia se encaminhando para o fim dos cinco minutos
de acréscimo dados pelo árbitro. A Nação soltava o grito de "é campeão" a
plenos pulmões. Mas faltava a cereja do bolo. Duas grandes atuações
foram coroadas com um gol nos últimos segundos de jogo. Luiz Antônio,
que seria eleito o melhor jogador da final, faz boa jogada pelo lado
direito e cruza para Hernane. O artilheiro da competição marcaria seu
oitavo gol com maestria. Após dominar a bola, o camisa 9 acerta um
voleio lindo no canto do gol adversário. A festa tomou as ruas do Rio de
Janeiro e do Brasil.
Naquela noite, no Maracanã, o Flamengo sagrava-se tricampeão da Copa do Brasil.
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