Vencer, vencer, vencer;
vencer, vencer, vencer
Depois de 17 anos, o Flamengo volta a conquistar o Campeonato Brasileiro e é hexacampeão nacional
Vencer, vencer, vencer, vencer, vencer, vencer
Depois de 17 anos, o Flamengo volta a conquistar o Campeonato Brasileiro e é hexacampeão nacional
Depois do Maestro Junior levantar a taça do Campeonato
Brasileiro em 1992, foram 17 anos de espera até que os mais jovens
rubro-negros pudessem comemorar um título nacional. Mas o destino
caprichou na hora de levar novamente este troféu para a Gávea. Com os
capítulos Quebra de Tabu, Técnico Ídolo da Casa, Craques Protagonistas
de Volta, Coadjuvantes Brilhando, Torcida Jogando Junto, Maior Mosaico
do Mundo e Gol do Título de Ronaldo Angelim foi escrito O Flamengo
Hexacampeão.
Início da temporada
O
ano de 2009 começou com a torcida pressionando o Flamengo por estar fora
da Taça Libertadores da América, já que a equipe tinha terminado o
Brasileirão 2008 em um frustrante quinto lugar, a apenas um ponto da
zona de classificação. Mas é na adversidade que o Flamengo cresce e a
pressão muitas vezes traz bons resultados ao time Mais Querido do Mundo.
Naquele ano, pela primeira vez na história, o Mengo conquistaria o
título nacional e o Campeonato Carioca na mesma temporada. O estadual
deu o quinto tricampeonato ao clube e foi a 31ª conquista do Flamengo na
competição, que passou a ser o maior vencedor da história do torneio.
No primeiro jogo do ano, uma magra vitória por 1 a 0 sobre o
Friburguense, no Maracanã. No segundo, mais três pontos sem sobras, com
um 2 a 1 sobre o Bangu, em Volta Redonda. Mas depois de um janeiro com
100% de aproveitamento, março reservava uma surpresa desagradável. Nas
semifinais da Taça Guanabara, em pleno sábado de carnaval, uma derrota
de 3 a 1 para o Resende deixou um Maracanã lotado atônito. Na decisão do
primeiro turno do Carioca, acabou dando Botafogo. Na Taça Rio, com raça
e determinação - além de motivados pelo capitão Fabio Luciano, que
havia comunicado sua aposentaria ao final do Carioca -, os rubro-negros
ganharam força e retomaram o caminho das vitórias, chegando à decisão do
segundo turno. O Alvinegro só precisava de uma vitória para levar o
estadual, já que havia conquistado a Taça Guanabara. Mas deu Flamengo. O
zagueiro alvinegro Emerson marcou contra e deu o gol da vitória ao
Rubro-Negro, que disputaria mais um jogo com o rival para decidir a
finalíssima do Estadual. Em um jogo emocionante, outro empate por 2 a 2,
outra decisão por pênaltis e outra vitória do Mais Querido. Era o
quinto tricampeonato estadual da história do clube, que conquistava seu
31º título estadual e assumia o posto de maior vencedor da história da
competição.
Reformulação no futebol
A eliminação para o
Internacional na Copa do Brasil, os rumores de crise entre treinador e
jogadores e os resultados negativos que começaram a aparecer no
Brasileirão resultaram em mudanças no futebol. Andrade assumiu o posto
de treinador, inicialmente como interino, e Marcos Braz o de
vice-presidente de Futebol. Ibson e Fabio Luciano precisavam de
substitutos e jogadores lesionados precisavam de reposição. Chegaram
David, Álvaro e Maldonado para o setor defensivo e Denis Marques e Gil
para o ataque.
Deixou chegar
Com o
decorrer da temporada, a equipe foi se acertando e embalou de vez com
dez jogos de invencibilidade. Um pequeno susto na derrota para o Barueri
interrompeu a sequência, mas que não foi obstáculo. Palmeiras, São
Paulo, Atlético-MG, Grêmio, Cruzeiro... os adversários na luta pelo
título tropeçavam e o Flamengo só subia na tabela, deixando de vez a
proximidade com a zona do rebaixamento e começando um namoro sério com o
G-4 - que virou casamento. Já firme na zona de classificação para a
Libertadores, o que era sonho se tornou palpável: a briga nas três
últimas rodadas era sem dúvidas pelo título.
Chegou a 36ª rodada. Flamengo x Goiás. Maracanã lotado, torcida
em êxtase com o maior mosaico do mundo, São Paulo derrotado pelo
Botafogo e a necessidade de apenas uma vitória para assumir a liderança.
Se o início do jogo foi absolutamente fantástico no momento em que os
milhares de braços se ergueram para lembrar que A Maior Torcida do Mundo
Faz a Diferença, o apito final do juiz que decretou o empate sem gols
foi um banho de água fria nos ânimos da Nação. Mas foi justamente o
Goiás que, na rodada seguinte, acabou favorecendo o Flamengo: o
Esmeraldino goleou o Tricolor Paulista por 4 a 2 no Serra Dourada,
enquanto o Mengão bateu o Corinthians por 2 a 0, em São Paulo. A
combinação dos resultados deixou o Rubro-Negro na liderança faltando uma
rodada para o fim.
Que torcida é hexa
Cada
minuto que separava a penúltima rodada da derradeira partida do
Brasileirão parecia durar os 17 anos de espera desde o último título. O
Brasil respirava Flamengo, que era mais assunto que sempre nas páginas
dos encartes jornalísticos de esporte. Nunca demorou tanto para chegar
domingo. E ficou reservado ao eterno camisa 6 da Gávea ser o técnico da
conquista do sexto campeonato nacional no dia seis de dezembro.
Rio de Janeiro, Estádio Mário Filho, 17h. No placar, os nomes de
Flamengo e Grêmio aguardavam quais seriam os números que completariam o
letreiro ao apito final. Bola rolando, arquibancada com os nervos à flor
da pele. Logo aos dois minutos, a bola passou perigosamente próxima à
meta de Bruno. Do outro lado, Zé Roberto deu um lançamento magistral
para Adriano, que desperdiçou. O sentimento de que ninguém tiraria
aquele título do Flamengo era forte, mas, quando o cronômetro apontava
os 21 minutos, Roberson cabeceou a bola alçada em cobrança de escanteio
para abrir o placar para o Tricolor Gaúcho. Como doeu ver o balançar do
Véu de Noiva. Enquanto os rubro-negros tentavam entender como aquilo
poderia estar acontecendo, a bola ia de pé em pé no gramado, em busca do
empate. E apesar de parecer que tinham se passado horas, apenas oito
minutos depois Adriano recebeu dentro da área, disputou com o zagueiro e
pediu pênalti. Mas o Imperador não precisava se preocupar: na sobra, o
zagueiro David Braz arrematou de pé direito acertou no canto de Marcelo
Grohe. Tudo igual no Maraca. Mas o primeiro tempo não terminou antes de
mais um susto, afinal, está no Estatuto - só pode - que todo jogo do
Flamengo tem função de teste cardíaco. Aos 41 minutos, o Grêmio balançou
a rede mais uma vez, mas graças a São Judas Tadeu - e, é claro, ao mal
posicionamento do ataque tricolor e à correta marcação de impedimento do
auxiliar - não valeu.
Na etapa complementar, Léo Moura, Petkovic e Adriano ficaram muito
perto de virar o jogo. Mas foi de um zagueiro a honra de marcar o gol do
título. Logo dele, cuja maior vaidade é ver o Flamengo vencer. Logo ele
estaria eternizado na história do seu clube de coração como o autor do
tento que decretou o hexacampeonato rubro-negro. Aos 24 minutos, o
camisa 43 bateu o córner e, com a técnica que lhe é peculiar, fez a bola
se encontrar com a cabeça de Ronaldo Angelim, o responsável por tirar
da garganta de 84 mil pessoas o grito de gol mais aguardado do ano.
Enquanto Pet dava uma cambalhota de felicidade na junção da linha
lateral com a de fundo, o Magro de Aço comemorava seu feito com a
espontaneidade de um torcedor. Se dependesse de qualquer flamenguista, o
jogo acabava ali mesmo. Mas ainda tinham mais momentos de tensão
previstos no regulamento... Até que o árbitro olhou para o relógio e viu
que já tinham passado mais de 48 minutos do segundo tempo antes de soar
o apito. Nessa altura, o coração já não cabia no peito e as lágrimas já
não cabiam nos olhos, insistindo em fugir para perto do sorriso fácil e
sincero de quem tem no Flamengo sua maior paixão.
Os heróis
Na lateral do campo, o primeiro negro
campeão brasileiro como técnico. E não foi só assim que Andrade fez
história. O Tromba foi eleito o melhor técnico do ano pela CBF, o quarto
brasileiro a ser campeão do torneio como jogador e treinador e o
primeiro a conseguir tal feito pelo Flamengo. Andrade sozinho era hexa:
tinha cinco taças como atleta e mais uma agora como "professor".
Petkovic
voltou ao clube para acertar dívidas. Mas segundo ele próprio, em
diversas entrevistas, voltou também para ser campeão. O craque sérvio
soube ganhar seu espaço com a técnica apurada e rara categoria que fazem
dele um dos maiores depois de Zico e foi o grande maestro do time
naquele ano. Com o cabalístico 43 nas costas do uniforme, tirou onda com
gol olímpico e de falta, assistências magistrais e passes açucarados
para os companheiros, que subiram de rendimento ao seu lado.
Já
Adriano, sete anos depois de deixar a Gávea, rescindiu contrato com a
Inter de Milão para assinar com seu time de coração e foi fundamental na
conquista, sendo artilheiro do Brasileirão com 19 gols, empatado com
Diego Tardelli. Ele só queria ser feliz. E sabia muito bem onde estava a
felicidade.
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