A segunda conquista nacional
Depois de ganhar o Mundial, Flamengo emendou título do Brasileiro
Foram poucos
dias de descanso. Em dezembro, o Flamengo batia o Liverpool por 3 a 0 e
conquistava o Mundial. No dia 20 de janeiro - pouco mais de um mês
depois -, iniciava a trajetória no Brasileirão de 1982. E aquele timaço
aguentou a pressão.
Em 1981, o único título que
escapou ao Mais Querido foi o do Campeonato Brasileiro. Derrotado nas
quartas de final pelo Botafogo, o Flamengo foi campeão do estadual, da
Libertadores e do Mundial. E o elenco iniciava 1982 com vontade de
corrigir este tropeço.
A estreia não poderia ter sido melhor. Com o Maracanã lotado para
receber os campeões mundiais, o time comandado por Carpegiani enfrentou o
São Paulo. E tomou um susto. Serginho marcou dois gols e os times foram
para o intervalo com vantagem para o adversário: 2 a 0. Mas nada era
impossível para aquele timaço rubro-negro. No segundo tempo, veio a
reação. Zico tabelou, invadiu a área e chutou forte para diminuir. O
empate veio aos 25 minutos. Andrade chutou no canto. Quando a rede
balançou, era questão de tempo até a virada rubro-negra. E ela veio.
Júnior passou pela esquerda e cruzou como sabia. Milimétrico. Zico subiu
e, de cabeça, fez o terceiro. Uma vitória para começar o Brasileiro com
o pé direito.
Aqui, explica-se: A fórmula de disputa do certame era diferente.
Os 40 times da primeira divisão foram divididos em oito grupos, com
cinco times em cada. Todos se enfrentaram em turno e returno. Os três
primeiros colocados de cada grupo passaram para uma segunda fase, onde
se juntaram aos quatro times vindos de repescagem e aos quatro primeiros
colocados da Série B - então chamada Taça de Prata. As 32 equipes foram
então divididas em oito grupos, com quatro integrantes em cada. Depois
de mais uma série de confrontos em turno e returno, os dois primeiros
colocados de cada grupo passaram à fase decisiva, que foi decidida em
mata-mata.
A emoção não acabou na primeira rodada. Logo em seguida, no
Arruda, um jogaço contra o Náutico. Os muitos gols são reflexo do
futebol apresentado pelas duas equipes. Leandro marcou o primeiro gol
com chutaço no ângulo. O time da casa empatou graças a gol contra após
confusão em escanteio. Hêider fez um golaço de falta e botou o
Alvirrubro Pernambucano na frente. E tudo parecia perdido quando, logo
depois, o mesmo Hêider subiu de cabeça para fazer 3 a 1. Mas, como ficou
provado contra o São Paulo, nada nunca é impossível para o Flamengo.
Batendo falta da lateral da área, Zico botou a bola na cabeça de Lico,
que diminuiu. O favor foi devolvido logo em seguida. O Camisa 10 da
Gávea recebeu lindo passe de Lico, passou por trás da defesa, fintou o
goleiro e bateu no canto: 3 a 3. A segunda virada em duas rodadas seria
selada com 75 minutos de jogo. E se o Náutico fez um golaço de falta, o
Flamengo também queria um. Zico não deixou barato: com sua tradicional
categoria, cobrou bola parada da entrada da área e não deu nenhuma
chance para o goleiro. Gol de craque. Gol da virada. Gol da vitória.
Depois
de vencer o Náutico, o Flamengo teve compromissos mais tranquilos
contra outras equipes do nordeste. O Ferroviário-CE sofreu 5 a 0 no
Maracanã e o Treze-PB perdeu por 3 a 0. No returno do grupo, mais
vitórias rubro-negras. 3 a 1 sobre o Treze e 2 a 1 sobre o Ferroviário. O
Náutico estragou os 100% de aproveitamento com um empate por 1 a 1 em
pleno Maracanã. Na rodada final, no Morumbi, mais um jogaço entre dois
times repletos de craques - e mais uma tarde de emoções.
Renato
abriu o placar para o Tricolor logo aos oito minutos. Caminho aberto
para uma vitória fácil? Que nada. Nunes e Lico, dois especialistas em
balançar as redes, viraram para o Flamengo ainda na primeira etapa. Com
quatro minutos do segundo tempo, Tita fez mais um. Seis minutos depois,
foi a vez de Zico. 4 a 1. O São Paulo ensaiou uma reação e evitou a
goleada graças a gols de Dario Pereyra e Éverton, mas a vitória ficou
mesmo com o Mais Querido.
O Flamengo chegou
voando à segunda fase. Invicto, foi sorteado em um grupo com gigantes:
Atlético-MG, Corinthians e Internacional. A estreia na etapa foi contra o
esquadrão corinthiano de Sócrates, Wladimir e Casagrande. No Morumbi, o
empate em 1 a 1 evidenciou o equilíbrio e a força dos dois times, com
Wladimir e Zico balançando as redes.
Ao empate,
se seguiu um jogo que representava simplesmente a reedição de tantos
confrontos recentes. Flamengo e Atlético-MG decidiram o Brasileirão dois
anos antes e, em 1981, tiveram históricos e equilibrados jogos pela
Libertadores. No Maracanã, mais uma virada.
O Galo parecia estragar a festa dos milhares de rubro-negros
presentes ao abrir o placar. Éder cobrou falta com categoria. A bola
bateu na trave e voltou nos pés do artilheiro Reinaldo, que não perdoou.
O empate viria em jogada de bola parada. Júnior cobrou falta na área,
Mozer tentou marca de cabeça e, quando parecia que João Leite encaixaria
a bola, Adílio apareceu para desviar para o fundo do gol. O virada veio
de quem era mais acostumado a impedir gols do que a marcá-los. Júnior
cobrou escanteio, Moze subiu mais que a defesa e, de cabeça, fez o
segundo. No returno do grupo, o Atlético-MG se vingaria e imporia a
única derrota do Flamengo antes da fase de mata-mata. Em jogo que os
times ficaram empatados pela maior parte do jogo e o Mais Querido brigou
até o fim, o Galo venceu por 3 a 1 no Mineirão.
Contra
o Internacional, o Flamengo empatou por 1 a 1 no Maracanã. Se parece um
resultado ruim para um jogo em casa, no Beira-Rio o Mais Querido
compensou. Numa troca de passes típica dos craques que estavam em campo,
Adílio achou Zico por trás da defesa. O Camisa 10 disputou com o
goleiro e abriu o placar de cabeça. Mauro empatou para o Inter e
Geraldão virou. E, mais uma vez, o Flamengo enfrentava um placar
adverso. O Beira-Rio tremia com a torcida Colorada. Lico, Adílio e Zico
fizeram uma linha de passe no meio da defesa Colorada e o Reinaldo
Potiguar chutou forte para empatar. Em seguida, Vitor dominou passe de
Tita com a perna direita, bateu com a perna esquerda e selou mais uma
vitória de virada do Flamengo naquele Brasileirão.
Gols de Zico e Tita no Maracanã garantiram uma vitória por 2 a 0
para o Rubro-Negro sobre o Corinthians. A vitória deixou o Flamengo na
segunda colocação do grupo e levou o timaço à fase de mata-mata.
Nas
oitavas de final, confronto rubro-negro. O Sport tomou 2 a 0 no
Maracanã, mas, no jogo de volta, na Ilha do Retiro, fez um grande jogo e
quase passou de fase. Mesmo perdendo por 2 a 1, o Flamengo passou às
quartas. O adversário das quartas foi o Santos. No Maracanã, Gilberto
abriu o placar para o Alvinegro praiano. O Flamengo lutou e, no segundo
tempo, Tita empatou e, aos 44 minutos, Marinho virou. Na Vila Belmiro, o
Santos novamente abriu o placar cedo. Com três minutos, Paulinho
Batistote fez 1 a 0. O placar dava a vaga ao Santos, mas lá estava Zico,
aos 38 minutos da etapa final, para empatar e botar o Flamengo na
semifinal.
Àquela altura, o Mais Querido estava
embalado e confiante. Foram vitórias convincentes e repletas de garra e
o título estava cada vez mais perto.
O
fortíssimo Guarani, liderado pelo matador Careca, era o adversário das
semis. No Maracanã, Zico e Peu botaram o Flamengo à frente e em vantagem
pela vaga na decisão. No fim do jogo, Lúcio descontou para o Bugre. A
partida seria decidida no Brinco de Ouro e os dois times estavam muito
vivos.
O estádio teve recorde de público: mais de 52 mil presentes. E
quem foi ao estádio em Campinas, naquele dia 15 de abril, assistiu a uma
das maiores exibições de um dos maiores jogadores da história. Não há
outra forma de dizer isso: Zico simplesmente acabou com o jogo.
Em
um cenário parecido ao da semifinal, o adversário abriu o placar com
três minutos de jogo. Jorge Mendonça, em belo voleio, aproveitou bola
alçada na área e fez 1 a 0. O show de Zico começou aos 22. Em jogada de
escanteio ensaiada, Júnior recebeu e cruzou. Zico subiu e cabeceou no
canto. 1 a 1. O primeiro tempo terminou empatado. A segunda etapa mal
havia começado quando Lico deixou a bola com Zico, que, do meio da rua,
soltou um tiro de canhão, cheio de efeito, e virou o jogo. Um golaço.
Aos 11 minutos, Adílio quase marcou o terceiro. No rebote, a bola
chutada bateu no zagueiro do Guarani e o árbitro marcou pênalti. Se
havia alguma pressão, o número 10 não sentiu. Zico bateu bem no
cantinho. Já no final do jogo, Jorge Mendonça descontou para o Guarani,
mas não foi o suficiente. Rubro-Negro finalista.
O adversário foi o Grêmio. Acostumado a enfrentar timaços na
trajetória até a decisão, o Flamengo teria como adversários agora nomes
como Hugo de León, Paulo Isidoro, Leão e Baltazar.
O
primeiro jogo, no Maracanã, tem, até hoje, a marca de quarto maior
público da história do Brasileirão. 138.107 torcedores estavam no Templo
do Futebol naquele dia. E parecia que a maioria sairia frustrada quando
com 38 minutos do segundo tempo, após um jogo muito disputado, Tonho
Gil abriu o placar para o Grêmio. Na única chance do Tricolor Gaúcho na
etapa final, Júnior quase tirou a bola em cima da linha, mas ela entrou.
Parecia que os visitantes definiriam o campeonato em casa, com vantagem
construída no Maracanã. Só parecia.
Decisão aberta para o
segundo jogo, no Olímpico. O campeão sairia de um resultado disputado
entre dois grandes protagonistas do futebol brasileiro. Com 75 mil
pessoas no estádio, tudo indicava uma atmosfera favorável ao Grêmio. Mas
o que se viu foi um 0 a 0 tenso, que forçou a realização de uma
terceira partida.
Quatro dias depois, novamente no Olímpico, os gigantes se alinharam para um último confronto. Dali, saiu o campeão.
O
gol do jogo não poderia ter saído senão dos pés do Artilheiro das
Decisões. O João Danado, que era malandro, arteiro, gostava de aprontar.
E aprontou para cima dos donos da casa. O Flamengo saiu jogando da
defesa. Júnior deixou a bola com Adílio, que costurou pelo meio, tabelou
com Tita e sofreu falta já na intermediária gremista. O time bateu
rápido, trocou passes e a bola chegou a Zico. O gênio acelerou a jogada,
partiu para cima e deixou com Nunes. Ele só precisou encostar na bola
em um único momento. E esta vez teve a força de milhares de outras. Um
chutaço. Seco, rasteiro, bem no canto, entre o goleiro Leão e a trave.
Se uma muralha existisse entre a bola e o gol, ela teria sido derrubada.
Nos 80 minutos seguintes, o Grêmio não conseguiu superar o Flamengo. No apito final, fomos bicampeões brasileiros.
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