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sábado, 5 de fevereiro de 2011

O privilégio de ser flamenguista


Acabei de ler o Blog do Torcedor do Flamengo de um grande privilegiado. O autor além de ser flamenguista se chama Arthur. Precisa mais? Acredito que não.
São duas matérias que ilustram um pouco a grandeza de levar o manto sagrado eternamente no coração.

A primeira:

A gente sabe, todo mundo aqui sabe, que o maior, talvez o único, patrimônio relevante do Flamengo somos nós. A Nação. Nação, galera, ao contrário do que todo mundo acha, não é a parte de dentro de um riscado com carteirinha na ONU. Segundo a fonte mais cientificamente conceituada, a Wikipedia, Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.

Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e tradição, por si sós, não constituem o caráter da nação. São requisitos secundários, que se integram na sua formação. O elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para a evidência de uma nação assenta no vínculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares.

Sentiram o drama? É por essas e outras que somos conhecidos por tal alcunha. É claro que tem paradas aí que não batem exatamente conosco. A Nação Rubro Negra não tem apenas um grupo étnico, tem todos. Não fala um único idioma, não tem os mesmos costumes etc. O que importa mesmo é que somos um grupo heterogêneo, espalhado territorialmente, com um interesse coletivo comum e que consciência disso. Uma nação internacional.

É por isso que o Flamengo não pode mais ignorar seus irmãos e irmãs de São Paulo, aqueles cerca de 2% da capital (sem contar o interior!) que sei lá qual pesquisa apontou tempos atrás. Aquela rapaziada que invadiu o Pacaembu em festa para comemorar o título da Copinha, que tomou a Paulista noite adentro para gritar É HEXA! e que vemos todo santo dia, sem distinção, vestindo o Manto Sagrado em todos os cantos da cidade. Aquela rapaziada que lota bares, em especial os que a Fla Sampa se instala, para apoiar e curtir o Mengão.

Esse pessoal todo quer ver o Flamengo mais de perto, quer ajudar o clube de várias formas, inclusive, pasmem, consumindo produtos do clube. É uma demanda latente, louca pra explodir. Precisamos de um braço oficial do Fla em São Paulo. Garanto que o Mengão não se arrependerá e que os outros irmãos rubronegros Brasil afora, inclusive os do amado berço carioca, ficarão orgulhosos desse Imperialismo Povão.

Tava pra escrever sobre isso há algum tempo, tinha esquecido, mas ver a estréia do Ronaldinho com a FlaSampa (bar lotado, 200 pessoas entoando as músicas da torcida) conversando com amigos rubronegros nascidos ou não em São Paulo, me fez lembrar dessa questão fundamental. E aí, pum, me deparo com um trecho do livro Nação Rubro Negra, de Edilberto Coutinho, em que ele apresenta Denise, paulistana rubronegra, filha de Silvio Pirillo, monstro da história do primeiro tricampeonato da década de quarenta.

Aí não pude lembrar de outra coisa que não a definição que Mário Filho, aquele do nome do Maracanã (que saudades), fez do Flamengo:

O Flamengo é o clube mais popular porque é o mais fácil de ser querido. E é o mais fácil de se querido porque não estabelece fronteiras para os que o amam ou desejam amá-lo. O Flamengo aceita o amor de todos, as simples simpatias, as amizades puras, serenas, as paixões desencadeadas. E o que é mais importante: se orgulha delas. Por isso se pode amá-lo à imagem e semelhança de cada um.

Vamos tomar esta cidade, Flamengo! hahahaha.

Rondi Ramone é punk, nascido e criado em Flamengo. No twitter: @rondiramone

Mengão Sempre

http://globoesporte.globo.com/platb/arthurmuhlenberg/


A segunda:

Vai ser do Galo?

O Rafinha completou 4 anos em dezembro do ano passado. E, apesar de ter sido indumentado minutos após o parto com um boné e uma camiseta do Galo, não nutre interesse algum por futebol. Frustração de pai boleiro. Talvez um dia, mais pra frente, ele passe a gostar. Talvez se o Galo ganhar alguma coisa importante nos próximos anos ele se torne mais um integrante da nação.

Por enquanto prefere desenhos do Tom & Jerry, algumas pedaladas, bonecos, piscina, praia e passeios nos shoppings. Este último por influência da mãe, egressa de São Paulo, onde os shoppings são uma beleza. Ela torce pro Corinthians e me contou surpresa dias atrás que o moleque tinha feito, do nada, uma declaração de amor ao Flamengo.

Diálogo, dentro do carro, voltando, claro, de um shopping:

_ Mãe, eu adoro o Mengo!
_ Como assim? Você nem gosta de futebol
_ Gosto sim. Não gosto é do Galo!
_ Mas e o Timão?
_ Também não gosto.
_ Mas por que o Flamengo, essa mulambada?
_ Por que eles são vencedores, mãe. Eles gostam de ganhar tudo.
_ Quem disse isso?
_ Uê, meus colegas. Todos são do Mengo. Você compra uma camisa vermelho e preta pra mim?
_ Não compro camisa do Flamengo, Rafa! Até parece! Não quer uma do Corinthians? Timão, Timão, êô!!!
_ Esquece mãe!
_ Uma do Galo?
_ Esquece mãe. Essa conversa não vai dar em nada!

Encerrou o assunto. Criança dessa idade faz cada uma! Por mais que a mãe provocasse, nada, nem uma palavra. Se soubesse assoviar, assoviava.

Outro dia, enrolava pra tomar leite e dei uma dura legal nele. Minutos depois, entrou em meu quarto, franziu os olhos, esticou os braços em direção ao chão (ele adora fazer isso quando está bravo) e mandou essa:

_ Vou te deixar aí sozinho no quarto pra você pensar melhor nas coisas que você tem me falado!

Eu hein! Bom, mas o assunto aqui no Terreirão é Galo. E é sobre o Galo e suas carências que vou escrever essas últimas palavras.

Entendo muito bem o Rafinha. O moleque vive no Rio e aqui a maioria espetacular dos meninos torce pro Flamengo. Os caras foram campeões brasileiros no ano retrasado. Já têm seis títulos, estão sempre promovendo ações de marketing e ganhando os jornais do mundo inteiro. Tinham Adriano e Vagner Love em 2009. Agora, repatriaram Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves. Montaram um puta time com duas tacadas certeiras. São favoritos ao título carioca e ao Brasileirão. E estão sempre quebrados, devendo a Deus e ao mundo. Não têm centro de treinamento. Mas têm o principal: espírito de vencedor. Podem estar lutando contra o rebaixamento que não perdem a arrogância nem o olhar superior. Isso, como gostam de dizer, é fato. Nenhum clube tem isso, só o Flamengo.

Os outros grandes do Rio lutam pra derrotá-los. Só se preocupam com o pessoal da Gávea. Têm trimiliques e suadouros toda vez que ouvem o nome Flamengo. Amaldiçoam-no, fazem vudu, ironizam com sarcasmo frívolo, xingam, fingem ignorar. Fazem o diabo pra acabar com a arrogância da mulambada mas não conseguem. O Flamengo hoje é odiado até na derrota. E isso é bom pra eles. Claro. O Rafinha tem em quem se mirar. E ele mira na mulambada. E acha a mulambada o máximo. Quem não quer ser um vencedor?

Nós, do Galo, nos iludimos, mais um ano, com as contratações medianas. Mancini (aquele mesmo que quase já foi defenestrado pra Sibéria por nós mesmo), Toró, Richarlyson, Jobson. Bons jogadores, mas nada mais que isso. Não damos passos longos, não chamamos o mundo pro nosso quintal. Nossa torcida é pessimista, irritada, raivosa. Não acredita em vitória nem quando está 4 a 0 aos 35’ do segundo tempo. Parecemos o povo alemão na década de 20 sufocado e entristecido pela Raterepüblik. É preciso mudar isso. Enquanto formos o time que só luta de igual pra igual no Campeonato Mineiro, enquanto não tivermos mais um título importante, nada vai mudar. Caraio, ter só um título nacional em mais de 100 anos de existência é coisa de louco!

Pode-se até dizer que é nisso que está nossa glória. Glória e fracasso, pode-se dizer também. Temos sim a glória dos guerreiros porque não desistimos dessa camisa, desse time medíocre, dessas trapalhadas das sucessivas diretorias incompetentes, desse manto de medo que cobre nossos sonhos. É nossa glória e nosso fracasso porque, ao mesmo tempo que nos mantemos firmes em nossa paixão e em nossa fé, passamos os dias num mundo de sonhos irrealizados. Acreditamos, mas talvez o melhor fosse uma revolução. Na cabeça de nosso dirigentes. Ainda há tempo. Vamos buscar um supercraque lá fora. Ainda este ano. Mesmo até que o cara não jogue, ou jogue um pouquinho. Temos que por o Galo no mundo de novo! No New York Times, nos jornais da Europa, da Ásia. Pensar grande. Revolucionar. Mudar. Essa é a nossa única salvação! O Rafinha agradece!

Saudações alvinegras!

Luiz Fernando Ávila

Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/arthurmuhlenberg/

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