Jackson do Pandeiro e o escudo do Flamengo em seu violão (foto de capa do LP “O melhor de Jackson do Pandeiro” – Polygram)
*Texto enviado pelo Érico Sátiro, de João Pessoa – PB
“Esse jogo não é 7×1…”. Os versos gravados há mais de 60 anos por
Jackson do Pandeiro em “1×1” (Edgar Ferreira) não foram bem assim, mas,
se o paraibano de Alagoa Grande, falecido em 1982, presenciasse a
catástrofe brasileira na Copa do Mundo de 2014 diante da Alemanha,
certamente gravaria uma canção sobre o assunto. Apaixonado por futebol,
Jackson cantou a seleção brasileira, o Flamengo e o futebol em geral.
Como abusava do humor em suas canções, o 7×1 sofrido pelo Brasil
provavelmente não passaria batido.
Música e futebol, duas grandes paixões do povo brasileiro, há muito
que se entrelaçam, fortalecendo-se entre si. A cada ano surgem
diferentes músicos com novas composições ou regravações sobre o esporte
mais popular do Brasil. Por outro lado, no meio do futebol, diversos
atletas se aventuraram na arte de cantar. Podemos citar, por exemplo, os
ex-craques Pelé, que gravou com Elis Regina; Zico, que cantou ao lado
de Fagner; Júnior, que tornou famosa a canção “Povo feliz”, popularmente
conhecida como “Voa, Canarinho”, e até mesmo o ex-centroavante Nunes.
Mais comum , como já dito, é o inverso, ou seja, o futebol ser tema de
músicas interpretadas por cantores profissionais. Chico Buarque, Jorge
Ben, Moraes Moreira, Wilson Simonal e Tim Maia são só alguns dos
inúmeros artistas que cantaram o esporte em seus discos. Na música
nordestina, Jackson do Pandeiro pode ser considerado o maior exemplo,
apesar de só ter praticamente uma canção sobre futebol amplamente
conhecida, a já citada “1×1”.
José Gomes Filho, nascido em 31/08/1919, só foi gravar suas primeiras
músicas em 1953, já conhecido como Jackson do Pandeiro. “Forró em
Limoeiro” (Edgar Ferreira), e, principalmente, “Sebastiana” (Rosil
Cavalcanti), estouraram nas rádios e alavancaram a carreira do
paraibano, que seguiu lançando discos até 1981, ano anterior ao do seu
falecimento, ocorrido em 10/07/1982.
Gravou forrós, xotes, marchas, frevos, sambas, batuques etc. Como ele
próprio dizia, “se o ritmo fosse brasileiro, estava dentro”. Por tal
motivo, e pela forma de divisão vocal que efetuava nas suas
interpretações, ganhou a alcunha de “O Rei do Ritmo”. Gravou mais de 430
músicas em sua carreira, compondo cerca de 160 delas. A maioria das
letras tinha como característica o bom humor, falando sobre causos,
brigas e confusões, embora também tenha cantado diversas outras
temáticas, como o futebol. Flamenguista, torcedor também do Treze de
Campina Grande (cidade onde passou sua adolescência e juventude) e
grande fã de Zico, sobre o esporte bretão Jackson gravou exatamente 10
músicas, citando-o ainda em outras gravações, como “Samba do Ziriguidum”
(Jadir de Castro/Luiz Bittencourt), sem que fosse, entretanto, o
assunto central. Apesar de haver na literatura brasileira alguns livros
sobre o futebol na música nacional, a maioria cita Jackson do Pandeiro
apenas por “1×1” ou “Frevo do bi” (Braz Marques/Diógenes Bezerra),
omitindo as demais canções que o Rei do Ritmo gravou sobre o tema, até
porque grande parte de seus trabalhos foi gravado em discos de 78 rpm e
se tornou raridade, sendo de conhecimento apenas de colecionadores e
pesquisadores. Para preencher essa lacuna, seguem abaixo as 10 canções
que Jackson do Pandeiro lançou sobre futebol:
“1×1” (Edgar Ferreira, 1954) – “Esse jogo não é 1×1, se o meu clube
perder é zumzumzum…”. A mais conhecida gravação de Jackson sobre o
futebol “servia para todas as torcidas”, segundo ele. A idéia inicial
era fazer para Pernambuco, usando as cores dos 3 principais clubes
capibaribes: Santa Cruz, Náutico e Sport. Ao falar em “encarnado, preto e
branco”, “encarnado e preto” e “encarnado e branco”, no entanto, a
letra abrangeu milhares de times que se utilizam dessas cores em seus
uniformes e acabou servindo para todo o Brasil. Gravada em 1953, em
Recife, e lançada em 1954, a música é de autoria do compositor
pernambucano Edgar Ferreira (1922-1995), que foi um dos principais
parceiros de Jackson no início de sua carreira, quando gravou sucessos
como “Forró em Limoeiro”, “Cremilda”, “Ele disse” e “Vou gargalhar”. A
canção foi gravada posteriormente por nomes como Zé Ramalho, Genival
Lacerda, Quinteto Violado, Fuba de Taperoá, Carmélia Alves, Trio
Nordestino e até mesmo pelo grupo de pop/rock Os Paralamas do Sucesso.
“4×1” (Damião Florêncio e José Gomes, 1957) – “4×1” marcou um dos
poucos duetos vocais entre Jackson do Pandeiro e Almira Castilho
(1924-2011), sua grande parceira musical e também esposa, com quem
conviveu desde o começo de seu sucesso profissional, em 1953, até a
separação do casal, no final dos anos 60.
Apesar de constar na autoria o nome de José Gomes, a composição é de
Damião Florêncio e da própria Almira Castilho, já que José Gomes nada
mais era que o pseudônimo usado por Almira em algumas composições, em
razão da incompatibilidade entre editoras musicais. Embora não cite
nomes de clubes ou jogadores, a letra traz um “embate” entre a dupla de
cantores na forma de uma partida de futebol. Foi lançada em 78rpm e no
lp de 10 polegadas “Jackson e Almira – Os donos do ritmo”, de 1957.
“Frevo do bi” (Braz Marques/Diógenes Bezerra, 1962) – a mais
divulgada gravação de Jackson do Pandeiro sobre a seleção brasileira
saiu em 1962, em um 78rpm, pouco antes da conquista do bicampeonato
mundial no Chile. Na letra, os autores imaginam um “baile de bola”
conduzido por Didi, Garrincha e Pelé. Gravada como um frevo épico, a
canção também ganhou uma versão de Tom Zé e Gereba, lançada no álbum
“Cantando com a plateia”, de 1990.
“Scratch de ouro” (Maruim/Oscar Moss, 1963) – Interpretada em forma de
samba, a música festeja o bi mundial da seleção brasileira, nominando
toda a equipe titular do escrete de ouro: Gilmar, Mauro, Djalma Santos,
Zito, Zózimo, Nilton Santos, Zagallo, Didi, Vavá, Pelé e Garrincha.
Apesar de a relação contar com 12 atletas, o fato pode ser explicado:
Pelé deixou a Copa na segunda partida da seleção brasileira, após
contusão, sendo substituído brilhantemente pelo artilheiro Amarildo. Os
compositores, então, acharam por bem incluir os dois craques na letra.
“Olé do Flamengo” (Jackson do Pandeiro/Braz Marques, 1964) – como o
próprio título já transparece, a canção enaltece a paixão pelo Clube de
Regatas do Flamengo, time de coração de Jackson do Pandeiro: “Eu vou, eu
vou amanhã, ver Flamengo jogar lá no Maracanã…eu não perco nenhum jogo,
seja de noite ou de dia”. Incluída no LP “Coisas nossas”, de 1964, a
música fala do “olé” que a equipe rubro-negra dá em vários rivais
locais, como Vasco, Botafogo e Fluminense, além da mais temida equipe
brasileira da época: o “Santos de Pelé”.
“A taça era dela” (Waldemar Silva e Rubens Campos, 1967) – de forma
irreverente, o samba critica a polêmica conquista da Copa do Mundo de
1966 pela seleção anfitriã, a Inglaterra, que na final venceu a Alemanha
após o juiz ter validado um gol em que a bola não chegou a ultrapassar a
linha da trave. Na letra, o compositor é direto: “a Inglaterra fez uma
Copa do Mundo, pra ela, pra ela, o campeonato ainda não havia começado e
a taça já era dela”. A faixa saiu no álbum “A Braza do Norte” (brasa
com “z” mesmo), de 1967, o último lp que traz Almira Castilho na capa.
“Frevo do tri” (Braz Marques e Álvaro Castilho, 1971) – por muito tempo
uma rara canção do repertório jacksoniano (somente em 2014 saiu em cd,
em um box que garimpou preciosidades do Rei do Ritmo), o frevo “saúda os
supercampeões”, celebrando a 3ª taça mundial conquistada pelo Brasil no
futebol, dessa vez em território mexicano. Ao contrário das anteriores
“Frevo do bi” e “Scratch de ouro”, a letra não cita nomes de jogadores,
mostrando a emoção do torcedor, que “gritou, torceu, chorou e sofreu”.
Assim como o “Frevo do bi”, é uma excelente canção sobre Copa do Mundo,
bem diferente das que são lançadas na atualidade.
“O bom torcedor” (Braz Marques e Jackson do Pandeiro, 1971) – A
letra retrata a paixão do brasileiro pelo futebol, “de norte a sul”.
Nela, o autor fala sobre suas equipes prediletas em alguns estados,
citando Flamengo, Corinthians, Atlético Mineiro e Santa Cruz, equipes de
grande popularidade. Apesar de citar apenas clubes, a música traz na
sua introdução a narração de um gol do Brasil anotado por Pelé, com
pequeno trecho repetido no final da faixa. Foi lançada em 1971, no LP “O
dono do forró”, disco que marcou a estréia do sanfoneiro Severo nas
gravações com Jackson.
“O Rei Pelé” (José Gomes Filho/Sebastião Batista, 1974) – A homenagem
que o Rei do Ritmo fez ao Atleta do Século XX veio no LP “Nossas
Raízes”, de 1974, mesmo ano em que Pelé se despediu do Santos Futebol
Clube. A 1ª faixa do lado B, “O Rei Pelé”, que narra as virtudes de
Edson Arantes do Nascimento dentro de campo, pode ser considerada a
principal música do forró em reverência ao jogador, que também foi tema
de canções em outros ritmos da MPB. Em cd, saiu apenas na coletânea
“Enciclopédia Musical Brasileira”, que traz Jackson ao lado do baiano
Gordurinha.
“Bola de pé em pé” (Jackson do Pandeiro/Sebastião Batista, 1981) –
lançada no último lp gravado por Jackson, 1 ano antes do seu
falecimento, a música também homenageia o Flamengo. Quando fala em
“Flamengo é tricampeão, acredite quem quiser”, a composição faz
referência, de forma implícita, ao tricampeonato carioca conquistado
pelo time em 1979. Nos anos seguintes, os versos poderiam ser utilizados
novamente pelos torcedores em outras quatro conquistas de tricampeonato
do rubro-negro: o brasileiro, em 1983, carioca, em 2001 e 2009, e da
Copa do Brasil, em 2013.
2 comentários:
Caro José Edilson, favor corrigir a autoria do texto. Ele não foi escrito pelo DJ Ivan, que apenas o publicou no Forró em Vinil.
Desculpe Érico Sátiro. Vou providenciar a correção agora. Muito obrigado pela atenção.
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